Se você não vive em outro planeta, com certeza deve ter visto a recente polêmica na qual Paulo Gustavo se envolveu. O humorista é o protagonista do programa 220 Volts e foi alvo de diversas críticas ao compartilhar imagens de Ivonete, uma de suas personagens. O problema é que parte da caracterização incluía a chamada black face. Que é quando um artista branco se pinta de preto.
Num primeiro momento, Paulo Gustavo tentou se desvencilhar da crítica. Sem compreender, ou parecendo não compreender, a complexidade da situação, ele foi ao facebook se defender.
“[…] Eu nunca fui atacado por representar um playboy machista mesmo sendo gay. Também não se incomodaram por eu fazer um nerd, uma mulher feia, uma Vagaba, uma mãe de família ou um anjo… Nunca me atacaram por representar a Senhora dos absurdos – uma mulher que se orgulha ridiculamente de ser branca, rica e hetero. Mas a Ivonete – que se orgulha de ser brasileira mesmo sendo crítica ao Brasil, que é pobre mas não se sente moralmente inferior a ninguém, que gosta de ser mulher e sobretudo tem auto-estima, amor próprio e orgulho de ser como é – me rendeu injustas críticas. […]”
Novamente, sua publicação foi duramente criticada. Mas qual o problema? Bom, para enxerga-lo, é preciso compreender a história da blackface. Essa prática foi muito comum, principalmente nos EUA, em teatros – embora não se limitasse a esse espaço, estando presente em desenhos animados, programas de rádio, filmes e etc – e tinha como intenção estereotipar o negro, representa-lo de forma caricata e irônica. Ou seja, o negro era apresentado para fazer piada e não para ser representado seriamente.
As críticas continuaram, especialmente pedindo que o humorista repensasse a prática da Black Face. Aparentemente, as críticas o levaram a reflexão. Paulo Gustavo publicou uma foto da nova versão de Ivonete, junto a um texto se desculpando.
No texto, Paulo Gustavo pareceu compreender o problema, dizendo: “Nesses últimos dias li, ouvi, pensei e entendi que há uma longa discussão sobre o uso de “blackface” muito anterior e muito maior do que eu, minha carreira, minha personagem e o 220 Volts, por isso decidi refazer a Ivonete sem que ela pareça uma caricatura risível da mulher negra”.
O gesto de Paulo Gustavo, em reconhecer o erro e repara-lo, é importante. No entanto, devemos nos questionar por quanto tempo as pessoas vão continuar pisando na bolsa por ignorância? A discussão em torno do Blackface é longa, dolorida e extensa. Como um homem branco, ele nunca deve ter entrado em contato com essa discussão. Não seria esse o problema?