“Se você quer que seus filhos sejam inteligentes”, começa a frase creditada a Einstein, “leia para eles conto de fadas. Se você que eles sejam muito inteligentes, leia ainda mais contos de fadas”. Inteligência, claro, é um termo solto que engloba múltiplas manifestações de interpretação. Mas a visão atribuída a Einstein é melhor aplicada ao que Howard Gardner chamou de a “nona inteligência”, dentro do que ele entende como múltiplas inteligências: a inteligência existencial.
Contos de fada – o tipo adequado, aqueles clássicos dos irmãos Grimm e Hans Christian Andersen – afirmam aquilo que crianças intuitivamente acreditam ser verdade, mas que são gradativamente forçadas a esquecer e, então, ter pavor: que o terrível e o fantástico surgem da mesma fonte, e que o que dá à vida mágica e beleza não é a ausência de terror e tumulto, mas a graça e a elegância com que navegamos através do desafio.
Essa noção estava no coração de J.R.R. Tolkien sobre a psicologia e os contos de fada. Quase um século depois, quando recontava Hansel e Gretel, Neil Gaiman afirmou que “se você esta protegido da escuridão, então você não tem proteção, conhecimento ou entendimento sobre a escuridão quando ela aparece”.
Em um artigo intitulado “A importância de ter medo” – uma reflexão sobre a primeira edição dos contos de fadas de Hans Christian Andersen, que revolucionou a forma de se contar histórias – o grande poeta polonês e ganhador do Nobel, Wislawa Szymborska escreveu:
“Crianças gostam de se assustar com contos de fadas. Elas tem uma necessidade inata de experimentar fortes emoções. Andersen assustou crianças, mas estou certo de que nenhuma delas teve raiva dele por isso, nem mesmo depois de crescidas. Seus maravilhosos contos são cheios de seres sobrenaturais, animais falantes e baldes tagarelas. Nem todo mundo nessa irmandade é inofensivo e bem disposto. O personagem que mais aparece é a morte, um implacável indivíduo que rouba o coração da alegria e leva embora o melhor, o mais amado. Anderson levava crianças a sério. Falava com elas não apenas sobre as aventuras alegres da vida, mas sobre seus problemas, tristeza e derrotas, tantas vezes não merecidas. Seus contos de fada, repleto de criaturas fantásticas, são mais realistas do que muitos dos contos atuais, que falam sobre plausibilidade e ignora maravilhas como a praga. Hans Christian Andersen teve a coragem de escrever histórias com finais infelizes. Ele não acreditava que uma pessoa deve ser boa porque compensa, mas sim porque o mal deriva de intelecto e emocional atrofiado, e essa é a forma de pobreza que mais deve ser combatida.”
[BrainPickings, Maria Popova]